19 Março 2024

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O brado de um vulcão (III)

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O pavor, e a dor de quem tudo perdeu. A força e a vontade de quem resiste. O conforto e esperança de um povo forte e determinado. A fé e tristeza de um povo simples e afectuoso que acredita no dia de amanhã. No fogo que se prova o ouro, diz o provérbio popular. Coragem! Depois da tempestade decerto vem a bonança. Pa nos armuns di Fogo un abrasu di solidariedadi y di koraji. Djarfogo na korason Todo o mundo está hoje de olhos postos no “majestoso vulcão do Fogo” que tem mudado um pouco nesses dias o ritmo de vida do dia-a- dia do cabo-verdiano. Em todos os cantos e recantos do arquipélago a conversa centraliza-se sobre os últimos acontecimentos do vulcão do Fogo que não cessa de manifestar a sua grandeza pondo a nu a fragilidade humana perante as forças da natureza. A “sua Alteza” cada dia que passa vai demonstrando a sua bravura causando dor, tristeza, e muita emoção a quem assiste de perto uma devastação sem precedente na história das erupções vulcânicas registadas na ilha do Fogo nas últimas três décadas. Um fenómeno que até então era algo desconhecido em Cabo Verde por uma boa camada de pessoas. Um trauma psicológico que ficará certamente marcado na memória de cada um. O povo cabo-verdiano tradicionalmente solidário com os seus companheiros não hesitou em responder com força ao apelo do Governo contribuindo com o pouco que tem. Todos nós sentimo-nos na verdade sensibilizados com esta causa. Penso que não há coração por mais duro que seja que não se comova perante este flagelo. A misericórdia divina há-de estender as Suas mãos a esta gente humilde e sofredora. No dia 02.12.14 A A“SEMANA online” escreve: “Lava engole Escola, Hotel Pedra Brabo e algumas casas. ” Impressiona de facto qualquer cristão o avanço impetuoso das lavas sobre o povoado de Chã das Caldeiras. O conceituado geógrafo, Mota Gomes, o homem que estuda permanentemente os segredos da vulcanologia considerado figura emblemática das erupções vulcânicas de 1995, fez uma antevisão real da situação alertando aos foguenses e aos caldeirenses em particular sobre o cenário que se vive neste momento que, segundo a sua análise esta situação poderá manter-se por uns 2 a 3 meses. De todo o modo a natureza tem os seus caprichos como se costuma dizer. Os cientistas também são humanos. Oxalá que o vulcão retome o seu repouso normal tão breve quanto possível. Mas, uma coisa é certa: Vigilância constante. Segundo o jornal “ASemana” online de 03.12.14 a fúria do vulcão foi bem forte no dia 2 de Dezembro a lava engoliu uma boa parte da Portela. Já a situação de hoje é de alguma acalmia em Chã, com o abrandamento da actividade vulcânica nas últimas horas. Mas a lava caminha lentamente em direcção as Igrejas Católica e Adventista.” Segundo fontes bem informadas mais de meia centena de casas e numerosas cisternas já foram destruídas pelas lavas. 03.12.14 As lavas do vulcão abrandou o ritmo a 1 metro por hora o que foi um alívio para os caldeirenses em comparação com actividade de 02 de Dezembro, que dava impressão de um fim do mundo naquela área. Desolação total – Chã das Caldeiras em risco de desaparecer 04.12.14, a situação era de grande lástima com o avanço das lavas a um ritmo impressionante de 3 metros por minuto. 05.12.14 No décimo e terceiro dia uma nova frente de lavas tipo havaiano caminhava em direcção a Portela. 06.12.14- Muitos gases expelidos da cratera do vulcão e duas frentes de lavas avançavam a um ritmo considerável ainda em direcção a Portela. 07.12.14- Exactamente duas semanas após o acontecimento o vulcão não dava sinal de trégua e todas as vias que davam acesso a Chã das Caldeiras estavam obstruídas. Ora, como tristezas não pagam dívidas, como se costuma dizer, em Gamboa na Praia realizou-se no Domingo dia 07.12.14 um encontro de artistas num espectáculo promovido pela Câmara Municipal da Praia em angariação de fundos para as vítimas do vulcão do Fogo que foi um sucesso ultrapassando todas as expectativas; uma acção nobre que demonstra como é solidário o povo cabo-verdiano com os seus irmãos em situações de adversidade. 08.12.14- Calamidade total, Chã das Caldeiras -o celeiro da Ilha do Fogo desapareceu praticamente do mapa só restam ruinas para história. As lavas ameaçam agora uma outra aldeia, o Fernão Gomes. Fiquei-me deveras emocionado com a coragem de uma das vítimas que tudo perdeu. Interrogado pelo jornalista enquanto colhia no campo as suas favinhas de congo verde se estava aborrecida com a situação responde calmamente com um autêntico espírito de fé no seu típico sotaque foguense: “Dioz ki faze ki danu ki ta torna toma, si nu xatia e ta danu mas kastigu”. Para um bom entendedor meia palavra basta. 09.12.14 – Décimo e sétimo dia da actividade vulcânica. Segundo noticias veiculadas em vários jornais, a situação amainou-se um pouco proporcionando aos estudiosos da matéria uma análise pontual da situação. Contudo, os povoados mais próximos parecem estar na mira da destruição. Neste momento de aflição os deslocados necessitam não só da assistência material que não faltam críticas quanto a sua distribuição mas também de assistência psicológica ou espiritual. Recordando o evangelho: Não só de pão vive o homem mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. 10.12.14 – Entrando no décimo e oitavo dia de actividade uma certa acalmia se regista no vulcão do Fogo, deixando estampado no rosto de cada um dos afectados uma certa satisfação depois de alguns dias de amargura e resignação. 11.12.14- Uma trégua frágil reina ainda a volta do vulcão o que não deixa de ser o prenúncio do fim de um pesadelo. Oxalá que seja assim. Hasta la próxima. Tarrafal, 11 de Dezembro de 2014. 1.

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